domingo, 16 de maio de 2010

Você permanecerá!



Dizem que tudo tem uma explicação. Nada que acontece, acontece por acaso. Mas não me canso de pensar que era cedo demais.

Na minha infância você sempre esteve presente... me recordo das brincadeiras, das vezes que sentei no sofá para assistir um futebol de domingo a tarde com você, o que nem é muito comum para uma menina de quatro, cinco anos de idade... eu nem sabia porque ficava ali sentada vendo aquele jogo pela TV, mas só de estar ao seu lado já era bom demais. Sempre me defendia das peripécias de meu irmão. Como ele era o mais novo, meus pais consequentemente o protegiam demasiadamente (ou talvez, não), mas me lembro de quantas vezes saiu em minha defesa impedindo que meu pai ou minha mãe brigassem comigo por qualquer arte que eu tinha aprontado. Mas nem por isso deixou de me corrigir quando era necessário. Guardo tuas palavras até hoje comigo.

Como essas palavras possuem um significado tão diferenciado hoje!

Você nunca teve vergonha de dizer que amava as pessoas importantes em sua vida; de lhe dar aquele abraço forte; um carinho, um cuidado. Enquanto a maioria das pessoas tem uma certa vergonha ou receio de admitir o quanto outras são importantes em sua vida, você não tinha esse medo. Hoje me pergunto, se alguém chegou a lhe retribuir este carinho.

Eu que muitas vezes recebi estas belas palavras ditas por ti em meu coração, lhe retribui muitas vezes com um sorriso e um abraço, mas não me recordo ter tido a coragem de te dizer com todas as palavras que também te amava.

Te amava por ter estado em minha companhia em cada passo que dei, tão perto, mesmo quando estava longe.

Me recordo que foi você que me apresentou pela primeira vez; em uma fita cassete, no início da década de 90, eu tinha apenas 8 ou 9 anos... mexendo em suas coisas pedi para colocar no toca-fitas, uma daquelas que estavam ali... eu que só conhecia Xuxa, Eliana, Sandy Jr., pela primeira vez fui apresentada ao rock anos 80... era Legião Urbana, não me lembro a música que gostei naquela época, uma vez que já se passaram 15 anos de lá pra cá... só me lembro que depois disso, eu passei a admirar um novo estilo que me foi apresentado por você. E em algumas oportunidades conversamos sobre rock nacional.

Se todas as nossas semelhanças parassem por aí... mas não, descobri no decorrer da minha adolescência, que eras um poeta. Um poeta que escrevia com a alma, mas sempre recluso em si, quase não divulgava seu pensamento. Um gênio como tantos outros, mas que não teve a oportunidade que merecia, ou talvez até tivesse tido, mas por circunstancias da vida, se viu obrigado a mudar o rumo de sua caminhada.

O quanto me orgulho de você! Hoje sei como dói ter que olhar, numa tarde de maio, com uma brisa leve batendo sobre o manto que te cobre... as lágrimas eu não consegui contê-las. Inevitável ali, ao lado de ti, não lembrar dos tantos abraços e dos sorrisos que recebi. Lembranças que estarão sempre na minha memória.

Deus coloca algumas pessoas em nossa vida por um porem. Você, me apresentou a Cristo, quando nasci. Hoje, com uma dor no peito, deixo Ele levar você para sempre de mim. Dói uma dor que é impossível de definir em palavras. Mas preciso te deixar ir. Você deixou muitos ensinamentos a mim, muitos gostos, muitos sonhos... me ensinou que não há nada que um sorriso não ajude a melhorar.

Mas... era cedo demais. Cedo demais. Você poderia viver muito, muito mais. É difícil aceitar, mas vou fazer o possível. Um dia a gente vai se encontrar e eu sei que me receberá de braços abertos e com a mesma frase, o mesmo sentimento: “ – Eu te amo!”

Obrigada por ter estado comigo ao longo destes meus 23 anos. Descanse em paz, meu Padrinho, meu tio, meu pai... sim, quase um pai. O seu verão acabou, mas verás o sol mais de perto e em um lugar bem perto de Deus.

Eu não poderia terminar de outra forma. A você que na juventude gostava tanto desta banda, e que passou essa admiração para ser seguida pela sua afilhada; a você uma letra que define bem este sentimento, e o desejo de que tenhas um descanso merecido ao lado do Senhor!



“É tão estranho



Os bons morrem jovens



Assim parece ser



Quando me lembro de você



Que acabou indo embora



Cedo demais



Quando eu lhe dizia



Me apaixono todo dia



É sempre a pessoa errada



Você sorriu e disse



Eu gosto de você também



Só que você foi embora...



Cedo demais!



Eu continuo aqui



Meu trabalho e meus amigos



E me lembro de você



Em dias assim



Dia de chuva



Dia de sol



E o que sinto não sei dizer...



Vai com os anjos



Vai em paz



Era assim todo dia de tarde



A descoberta da amizade



Até a próxima vez...



É tão estranho



Os bons morrem antes



Me lembro de você



E de tanta gente que se foi



Cedo demais!



E cedo demais...



Eu aprendi a ter



Tudo o que sempre quis



Só não aprendi a perder



E eu que tive um começo feliz...



Do resto não sei dizer



Lembro das tardes que passamos juntos



Não é sempre mais eu sei



Que você está bem agora



Só que neste mundo



O verão acabou.



Cedo demais!”



(Os bons morrem jovens – Legião Urbana)






Para Gessy Vieira Borges
De sua afilhada, Giselle Borges Alves,
Uma justa e singela homenagem.

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