sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Egoísmo



Sinto falta de você.
Mas o que sinto falta é de tudo o que é seu e me falta.
Sinto falta de minhas faltas que em você não faltam.
Sinto falta do que eu gostaria de ser e que você já é.
Estranho jeito de carecer, de parecer amor.
Hoje, neste ímpeto de honestidade que me faz dizer,
Eu descobri minhas carências inconfessáveis que insisto em manter veladas.
Acessei o baú de minhas razões inconscientes
E descobri um motivo para não continuar mentindo.
Hoje eu quero lhe confessar o meu não amor, mesmo que pareça ser.
Eu não tenho o direito de adentrar o seu território
Com o objetivo de lhe roubar a escritura.

Amor só vale a pena se for para ampliar o que já temos.
Você era melhor antes de mim, e só agora posso ver.
Nessa vida de fachadas tão atraentes e fascinantes;
nestes tempos de retirados e retirantes, seqüestrados e seqüestradores,
A gente corre o risco de não saber exatamente quem somos.
Mas o tempo de saber já chegou.
Não quero mais conviver com meu lado obscuro,

E, por isso, ouso direcionar meus braços
Na direção da dose de honestidade que hoje me cabe.
Hoje quero lhe confessar meu egoísmo.
Quem sabe assim eu possa ainda que por um instante amar você de verdade.
Perdoe-me se meu amor chegou tarde demais,
Se meu querer bem é inoportuno e em hora errada.
É que hoje eu quero lhe confessar meu desatino,
Meu segredo tão desconcertante:
Ao dizer que sinto falta de você

Eu sinto falta é de mim mesmo.



Pe.Fábio de Melo

(Quem me Roubou de Mim?)


quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Pequenas notas


- Ei moça, espera!

- Falou comigo?

- Sim. Isto é seu!

- Oh, não. Deve ser de outra pessoa.

- Não, não é seu. Tenho certeza.

E ela sorriu. A flor era linda. Mas mesmo assim tentou recusar, mas antes que pudesse abrir a boca novamente:

- Cultivei desde o primeiro dia que te vi passar; cresceu conforme a minha esperança e quando bela ficou, colhi pra você! – disse o rapaz.

Aceitou. Não tinha mais jeito, dali pra frente... floresceu.


segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Cooperação: a pedra fundamental da liderança no século XXI


Nesta terceira postagem sobre o tema liderança decidi abordar a cooperação. O termo não precisa de muitas explicações, pode ser entendido simplesmente como um agir simultâneo, uma conjugação de forças em torno de um ou alguns objetivos comuns.

Através dos tempos, o homem descobriu que os processos podem ser otimizados com união e organização. Assim surgiram associações, cooperativas, clubes de serviço e, atualmente, algumas empresas vem adotando os mesmos métodos de trabalho para sobreviverem neste enorme espaço global. A massificação do capital sobre o bem-estar vem perdendo espaço. A valorização do ser humano construindo meios para que possam desenvolver todas as suas habilidades e aprimorar idéias vem sendo a base de algumas organizações nos últimos anos, mesmo que estes exemplos ainda sejam pequenos.

O exercício da liderança através da cooperação pode ser a grande revolução para as relações humanas nos mais diversos setores (político, econômico, cultural...). A liderança é compatível com processos democráticos e participativos. Ao contrário do que muitos pensam, ela não se resume apenas a características individuais, não é um atributo inerente a uma pessoa. A liderança deve ser explorada como meio de resolução de conflitos e pode surgir do grupo, afinal ninguém consegue exercer liderança em todas as áreas.

As limitações humanas sejam elas de índole física, cultural, financeira ou psicológica, impedem o exercício pleno da liderança. Cada pessoa possui uma especialidade, um dom, uma capacidade única que deve ser valorizada e desenvolvida. A união de diversas especialidades é que produz o desenvolvimento social e humano.

Desta forma, formulei há dois anos uma "Teoria D” para a valorização da liderança cooperativa. A base está em palavras de ordem que devem nortear atitudes de quem deseja a busca de uma liderança eficaz em grupo. São elas:

Despertar: acordar para a vida, literalmente! As coisas não caem do céu e você tem a missão de buscar o melhor para si e fazer com que os outros também despertem o melhor que possuem.

Dedicação: É um esforço necessário para atingir o sucesso. Quando for fazer uma coisa, faça bem feito ou não faça.

Disciplina: sacrifique horas se necessário, conheça o seu limite. Nenhum exército vencerá uma batalha sem abdicação. Esta é verdadeiramente a mãe do êxito.

Determinação: não importam quantas e quais dificuldades terá que enfrentar. O determinado não poupa esforços para alcançar o sucesso.

Desafio: se entregue ao risco, mas calcule as chances de perca para que depois não precise repetir para si mesmo: “o que foi que eu fiz?”. A liderança deve estar acostumada aos abalos que atingem todos aqueles que querem ser ousados. Cair e levantar faz parte do jogo. Desafie a si mesmo. Este é o ponto crucial.

Disposição: aprenda a ser flexível. Abandone velhos hábitos e adquira novos conhecimentos. Na liderança não há espaço para acomodação.

Desempenho: metas, objetivos e, principalmente, procure medir os métodos. Testes de desempenho são importantes para saber se está no caminho certo ou é hora de mudar de tática.

Despontar, destacar-se: procure sempre estar entre os melhores. Necessariamente o primeiro lugar não será sempre seu e nem deve ser. Permita-se alcançar o podium, mas tenha a cautela para não estar sozinho. A parceria pode te render mais do que uma liderança isolada.

Difundir, divulgar, disseminar: as ideias, programas, projetos devem ganhar ampla publicidade. As ideias devem saltar da mente e ganhar o mundo. Os grandes líderes souberam ter seguidores fiéis através da difusão do pensamento.

Diversão: tenha um tempo para os amigos, a família, os amores. Viva! O círculo social pode ser um ótimo meio de diversão e quem sabe possa lhe render bons frutos profissionais também. Diz a sabedoria popular que “quem não é visto não é lembrado”. A busca de sucesso também envolve momentos felizes de confraternização. Portanto, um barzinho com uns amigos pode ser uma ótima opção.

Doar: importe-se com o outro. Doe um pouco do seu tempo para pessoas que talvez você nem conheça. Um “bom dia”, um sorriso, um abraço, uma palavra de conforto. A liderança também passa pela relevância da presença.

Para finalizar este tríduo de postagens sobre o tema liderança, selecionei um trecho do discurso de posse de Nelson Mandela, datado de 1989, que resume basicamente todas variantes deste instigante tema:


“Nosso maior medo não é o de sermos inadequados.

Nosso maior medo é o de sermos poderosos além das medidas.

É a nossa luz, não nossa escuridão o que mais nos apavora.

Perguntamos a nós mesmos: Quem sou eu para ser brilhante,

esplêndido, talentoso e fabuloso? Na verdade, eu pergunto:

Por quê não? Você é um filho de Deus! Bancar o pequeno

não serve ao mundo. Nada nos esclarece no sentido de nos

diminuirmos para que outras pessoas não se sintam inseguras

em torno de nós. Todos temos luz. Ela não está apenas

em alguns de nós; e quando deixamos nossa própria luz

brilhar, inconscientemente damos a outras pessoas

permissão para fazer o mesmo. Quando nos libertamos

de nosso próprio medo, nossa presença automaticamente

liberta outros."



Discurso de posse de Nelson Mandela, 1989. (Prêmio Nobel da Paz).



sábado, 1 de janeiro de 2011

É possível retirar boas lições de liderança de líderes perversos?

Costumo dizer que os líderes por excelência possuem quatro características essenciais: ousadia, poder de comunicação, a dose certa de coragem e emotividade. Mas é possível a ausência de alguma(s) destas peculiaridades e mesmo assim verificarmos algum tipo de liderança.

A ausência de ousadia faz do líder um ser propenso aos perigos do fracasso por falta da inalterabilidade de metas e atitudes. Mesmo diante da mais tenra dificuldade onde é necessária apenas uma reestruturação, peca aquele que deixa de ser atrevido o suficiente para modificar os fatos e transformar a realidade da organização.

A deficiência do poder de comunicação transforma a liderança em algo tendente ao surgimento de problemas de convivência. A desestruturação interna é o começo do fim de uma organização, associação ou sociedade. O líder deve estar atento a motivação do grupo e deve usar do poder da palavra para influenciar atitudes inovadoras de seus colaboradores.

Quando se fala em dose certa de coragem, o objetivo é o dinamismo. O entusiasmo de um líder pode transformar qualquer grupo por mais disperso e perdido que esteja. Desafiar e fazer com que os seus seguidores - que devem ser tratados como companheiros, membros de uma mesma empreitada – acreditem que não existe absolutamente nada impossível quando se age com consciência de grupo e para o bem de todos. O líder não é aquele que diz “eu vou” e sim aquele que afirma, “NÓS VAMOS”! Saber delegar atribuições e confiar na equipe é a melhor maneira de trazer crescimento para o grupo. O grande líder deve ser audacioso.

E a ausência de emotividade? Será mesmo que o bom líder deve ser bom? E o que dizer dos líderes maus? É possível retirar lições de liderança ou alguma característica de líderes perversos, mas que valem à pena ser utilizadas? Advirto que a resposta da última pergunta é SIM e respeito opiniões contrárias. Passo então a refletir sobre os questionamentos acima.

Colocar a emotividade como característica dos líderes por excelência é dizer que os bons líderes, aqueles que realmente merecem este título, devem estar atentos às necessidades de seus companheiros da batalha diária e ser sensível aos problemas ao seu redor. Simplesmente ter as características da não-conformação e do altruísmo. O bom líder deve ser BOM em sentido amplo. A unidade de seu exército depende da sua capacidade de medir o grau de felicidade – e não de fidelidade – dos que o rodeiam.

Mas quando há ausência de emotividade e por conseqüência de altruísmo, ganha espaço o orgulho e a distorção do verdadeiro aspecto da boa liderança. Muitos foram os líderes que marcaram a história mundial por sangue e crueldade, mas que até hoje despertam a curiosidade a respeito do poder de influência que exerceram ou exercem sobre determinadas pessoas.

Para não ir muito longe, nem na história, nem nas explanações que são apenas exemplificativas, vou apenas referenciar dois líderes que marcaram lados perversos do século XX: Adolf Hitler e o brasileiro Fernandinho “Beira-Mar”. Alguém duvida que para ambos possa ser dado o nome de líder? Por mais que socialmente e humanamente reprováveis, eles são líderes. Líderes sem a característica da emotividade e do altruísmo, mas líderes.

Ambos possuem as outras três características que acima mencionei: ousadia, poder de comunicação e coragem. Liderança que não é exercida para o bem, mas é liderança. Sendo assim é possível concluir que existem lições que devem ser tiradas até dos líderes mais repugnantes.

Alguém já se perguntou como Adolf Hitler conseguiu transformar a nação alemã, berço de grandes intelectuais, em seus seguidores? Disseminou tanto ódio e intolerância, e por mais abomináveis que sejam as tragédias do holocausto, ainda hoje levam inúmeros estudiosos a pesquisar sobre a sua personalidade.

Hitler deu aos alemães o que mais eles queriam: “a volta por cima”. A superioridade ariana - que não foi criada por ele, mais foi disseminada – era para os alemães, abalados pela guerra, a oportunidade de acreditarem que realmente eles possuíam essa capacidade e personalidade superior. O povo precisava acreditar no renascimento das cinzas e a fênix foi o führer (“líder” em alemão), Adolf Hitler.

Os principais aspectos da liderança de Hitler podem ser resumidos no discurso de massa - e para a massa – aliada a uma forte doutrina baseada no medo. Apesar de operações desastrosas enquanto esteve na direção da nação alemã, a capacidade de adquirir seguidores de suas teorias é invejável. O poder do discurso de Hitler é impossível de ser questionado. Ele dizia o que o povo alemão precisava ouvir, apesar das máscaras escondidas sobre a ideologia que apregoava.

Luis Fernando da Costa, mais conhecido como Fernandinho “Beira-Mar”, um dos maiores traficantes de armas e drogas do país, é objeto de estudo por inúmeros pesquisadores brasileiros que tentam entender a estruturação do poder paralelo do narcotráfico e o modo de atuação deste tipo de liderança. A desestruturação deste flagelo depende disso.

A grande pergunta é como Fernandinho “Beira-Mar”, que mesmo preso desde 2002 ainda consegue controlar o narcotráfico em diversas regiões brasileiras? Como ele consegue impor tanto respeito e não perde o reinado mesmo enclausurado há 08 anos? A liderança de Beira-Mar só pode ser entendida pelo prisma da liderança de Hitler: o discurso de massa. Mas ao contrário do povo alemão, “Beira-Mar” tem ao seu alcance pessoas que se encontram apartadas socialmente, ainda mais fáceis de dominar para a disseminação da ideologia de poder paralelo.

A ambição, o poder de comunicação e a determinação para alcançarem o que querem – mesmo que isso implique ausência total de humanidade – são características permanentes destes líderes. Mas quais as lições que podemos retirar destes líderes perversos?

Ambos sabem identificar as dificuldades do grupo e utilizar os pontos, que inicialmente parecem ser fracos, a favor de objetivos maiores. Qualquer organização ou mesmo a tentativa de buscar a essência da liderança pessoal, passa pelo reconhecimento dos problemas e a esquematização de regras e metas para mudança. Outro ponto importante é o poder do discurso. A comunicação é a chave! Quem não tem o dom nato deve procurar meios adequados para desenvolver esta habilidade.

Motivação! Esse é o ponto crucial. As pessoas do grupo precisam ter seus talentos reconhecidos e enfatizados. O bom líder deve saber identificar os talentos e transformá-los em verdadeiros prodígios para alcançar os objetivos maiores da organização. Tanto Hitler como Beira-Mar ofereceram meios eficazes para motivar seus seguidores, embora os “meios” sejam questionáveis.

Para finalizar a segunda postagem do tema liderança, apenas enfatizo que precisamos de novos líderes e todos necessitam se colocar pessoalmente em um plano superior para alcançar a realização dos sonhos de uma vida. Mas o principal é esclarecer que o individualismo não é compatível com a liderança eficaz. O verdadeiro líder deve ter o compromisso de servir a todos para o bem de todos. A cooperação é essencial para a sobrevivência no mundo atual.

É possível tirar boas lições mesmo em líderes perversos, mas não podemos esquecer que os líderes valorizados, aqueles que realmente são bem vindos, devem ser altruístas e honestos em todos os sentidos. Ética, coragem e compaixão. Bastar tentar, todos somos capazes. Querer é poder!