sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Palavras de Rubem Alves

 
 
"Não sabia que era precisamente esse fracasso que me levaria ao lugar que desejava. As correntes do rio profundo foram mais generosas que o meu remar contra elas. Não cheguei aonde planejei ir.
Cheguei, sem querer, aonde meu coração queria chegar, sem que eu o soubesse."
 
(Rubem Alves)
 
Sempre preciso.
 

terça-feira, 15 de outubro de 2013

A Educação pela Pedra, por João Cabral de Melo Neto


Uma educação pela pedra: por lições;
Para aprender da pedra, frequentá-la;
Captar sua voz inenfática, impessoal
(pela de dicção ela começa as aulas).
A lição de moral, sua resistência fria
Ao que flui e a fluir, a ser maleada;
A de poética, sua carnadura concreta;
A de economia, seu adensar-se compacta:
Lições da pedra (de fora para dentro,
Cartilha muda), para quem soletrá-la.


Outra educação pela pedra: no Sertão
(de dentro para fora, e pré-didática).
No Sertão a pedra não sabe lecionar,
E se lecionasse, não ensinaria nada;
Lá não se aprende a pedra: lá a pedra,
Uma pedra de nascença, entranha a alma.



(João Cabral de Melo Neto, pernambucano, poeta e diplomata. Chegou a ocupar a cadeira de número 37 da Academia Brasileira de Letras - link ).


quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Depois de receber um bom dia especial...


 




"... sou privilegiado por ter encontrado em um mundo tão vazio a mais bela das inspirações..."


Palavras do meu "Anjo-poeta".
E a quinta-feira poderia só ter começado...
... entretanto, a quinta-feira encantou!


(Gisa Borges)





quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Inacabadas...




"O senhor... Mire veja: o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas - mas que elas vão sempre mudando. Afinam ou desafinam. Verdade maior".



 (Trecho de "Grande Sertão Veredas", Guimarães Rosa)












sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Sexta-feira, 30 de agosto de 2013, 16h56

No celular...

"Ao fim d'uma tarde um poema, uma reflexão: 'Amor é um vazio que assola nossa alma, um frio que nos persegue nas noites frias, uma saudade que não suporta a distância qualquer... 
Deseja-se o outro para se sentir completo, sua presença para combater as aflições da solidão, pois sua simples presença já desperta um sorriso de quem sabe que Amor são duas almas em um só coração...'."

Privilégio de vida: um poeta particular.

O autor continua bem guardado.


(Gisa Borges)


segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Particularidades...

Nas sms's de domingo (25/08/2013), depois de alguns assuntos, leio...


"[...] Sim, isso é amor. Encontrar no próximo aquilo que completa a razão de sua vida, simplesmente por estar a seu lado, e se unir a ela eternamente".

Minutos depois...

"[...] Querer abraçar a pessoa e protegê-la, cuidar com carinho... Encontrar num sorriso sincero sua maior felicidade, na tristeza do outro uma angústia inominável, em sua dor o maior dos tormentos...
Mas na felicidade do outro enxergar a perfeição do mundo, esquecer seus problemas e se embriagar no amor, que aquece seu coração como um fogo brando que afasta qualquer tristeza".


Não, o texto não é meu. O autor está bem guardado.
Sim, foi um belíssimo domingo!



Gisa Borges.




sexta-feira, 19 de julho de 2013

História, literatura, Direito e Filosofia: Entrevista - jurista e escritor alemão Bernhard Schlink

 (Reprodução da entrevista publicada pelo Conjur, em 12/07/2013 - link)

Ideias do Milênio

Pode haver uma educação ao se confiar na Justiça

Entrevista concedida pelo jurista e escritor alemão Bernhard Schlink à jornalista Leila Sterenberg, para o programa Milênio, da Globo News. O Milênio é um programa de entrevistas, que vai ao ar pelo canal de televisão por assinatura Globo News às 23h30 de segunda-feira, com repetições às 3h30, 11h30 e 17h30. 








Nuremberg, segunda metade da década de 40 do século 20. Primeiro, o julgamento dos principais responsáveis pelos crimes contra a humanidade da II Guerra Mundial condenados à pena capital. Depois, uma dúzia de processos contra médicos, oficiais nazistas e outros envolvidos na morte de milhões de pessoas. Será que a punição da Justiça é suficiente para reparar o sofrimento causado por um genocídio? E a responsabilidade do mandante de um assassinato pode ser comparada à de quem apenas cumpriu ordens. A Filosofia do Direito se faz perguntas como essas. A arte também. O livro O Leitor, que ganhou versão pro cinema, é um exemplo. O filme rendeu à atriz Kate Winslet o Oscar de melhor atriz em 2008. No mesmo local em que foi filmado o julgamento da personagem de Winslet, nos arredores de Berlim, Bernhard Schlink foi entrevistado. Jurista e autor de O Leitor, além de novelas policiais, romances, contos e livros jurídicos, Schlink transita entre a reflexão sobre os limites da lei e da Justiça e a ficção. Escreve em estilo direto, o que ora se entremeia com história recente da Alemanha, ora tem por ponto de partida aquilo que estrutura as relações entre as pessoas, sejam verdades ou mentiras. Pra Schlink, existe uma dimensão humana que a literatura capta melhor que qualquer ciência e que o Direito. Obras de Schlink foram traduzidas e publicadas no Brasil pelo Instituto Brasiliense de Direito Público, em parceria com a editora Saraiva.

Leila Sterenberg — O senhor disse, em uma entrevista ao The Guardian, que ser alemão é uma carga enorme. Isso está muito ligado à forma como os alemães veem a si próprios e também sua responsabilidade com a Europa. Existe alguma alternativa ou se deve aceitar isso?

Bernhard Schlink — Devemos aceitar. Não existe alternativa a isso. A Europa, na situação atual, que não preciso descrever, tem a Alemanha como seu parceiro econômico mais forte. A consequência dessa força é uma responsabilidade. Todos nós queremos a Europa. Para isso, temos que fazer o que pudermos.

Leila Sterenberg — A União Europeia e a moeda unificada foram tentativas de aliviar um pouco essa responsabilidade? Ter uma alma europeia seria mais fácil do que ter uma alma alemã?

Bernhard Schlink — É uma ótima pergunta. Para isso, também não há alternativa. Nós, alemães, temos uma alma alemã. Somos europeus de coração. Não significa que substituímos a alma alemã pela europeia. Na minha geração, diziam: “Não sou alemão, sou europeu.” Ou então: “Sou cidadão da comunidade ocidental.” Ou ainda: “Sou cidadão do mundo.” Quando os alemães começaram a viajar mais, a morar no exterior, a serem chamados de alemães, eles perceberam que são alemães.

Leila Sterenberg — Os alemães têm uma dívida pela sua própria culpa? E que agora eles têm problemas com as dívidas dos outros?

Bernhard Schlink — É um jogo de palavras interessante. Eles realmente têm um problema de culpa com o passado. Mas isso diminui com as gerações. É diferente se foi o pai quem lutou no exército nazista, ou se foi o avô, que talvez nem tenham conhecido. Quanto mais distantes são as gerações, menos se tem culpa. Já as dívidas, por sua vez, crescem. Não que uma coisa tenha a ver com a outra. Mas realmente as dívidas crescem. Isso será o ônus da próxima geração.

Leila Sterenberg — O Prêmio Nobel da Paz foi dado à Europa. O que esse prêmio significa para o senhor?

Bernhard Schlink — Acho que o prêmio que o comitê tem mais dificuldade para definir é o da Paz. Entregar esse prêmio a uma instituição é quase uma fuga. E também tivemos escolhas erradas. É mais difícil escolher um nome, seja Kissinger, Begin... Dar esse prêmio difícil à Europa é menos arriscado.

Leila Sterenberg — O alemão talvez seja a única língua do mundo que tenha um termo para “lidar com o passado”. O inglês usaria no mínimo quatro palavras. “accounting for the past”.

Bernhard Schlink — “Coping with the past”.

Leila Sterenberg — É uma especificidade linguística, mas mostra a relação dos alemães com seu passado?

Bernhard Schlink — Sim, o passado do Terceiro Reich, a guerra, o holocausto. É uma carga especial, uma culpa específica. E temos que lidar com isso. Não se pode simplesmente esquecer ou deixar para trás. Lidar com o passado é uma tentativa de ser justo. É captá-lo para poder conviver com essa carga e essa culpa.

Leila Sterenberg — Sua carreira de autor começou com um romance policial que o senhor escreveu com Walter Popp. Como o senhor descreveria o desenvolvimento do romance policial para uma ficção madura, bem desenvolvida?

Bernhard Schlink — O romance policial também pode ser uma ficção madura. Não penso em categorias. Eu comecei com o romance policial porque eu gostava de ler esses livros. Escrevê-los é um prazer tão grande quanto lê-los. Começar com isso talvez seja o primeiro passo de um jurista. Não levo meus casos para os meus livros. Minha área é constitucional, não é criminal. Mas, no romance policial, assim como no Direito, desenvolve-se o problema para em seguida resolvê-lo. Essa é a estrutura desse gênero. Quando comecei, eu não queria escrever sobre mim. Muitos primeiros livros são sobre o próprio autor. Eu não queria isso. Mas nunca me propus a escrever somente romances policiais. Eu queria escrever uma história que eu quisesse contar.

Leila Sterenberg — De onde veio sua vontade de escrever? O senhor já foi professor e jurista.

Bernhard Schlink — Eu não saberia lhe dar uma boa resposta. Eu sempre escrevi. Na escola, escrevi poemas ruins, pequenas histórias. Quando comecei a escrever cientificamente, descobri o prazer desse tipo de escrita. Durante um tempo, fiz isso, mas percebi que faltava algo. Comecei a experimentar a escrever outras coisas. De certa forma, foi um retorno.

Leila Sterenberg — Aparentemente, na Alemanha atual, há uma tendência na literatura de lidar com esse passado. O senhor é tido como fundador ou pelo menos o representante mais conhecido dessa vertente. Penso no livro Em Tempos de Luzes Minguantes, que é a história de uma família. Eu vejo nele a influência de sua literatura. O que o senhor acha?

Bernhard Schlink — Eu não poderia falar em influência. Eu li o livro. Acho excelente. Mas acho que leva quase uma geração para que se possa escrever sobre um período. Foi assim na Primeira Guerra Mundial. A literatura veio mais tarde, nos anos 1920, 1930. Depois da Guerra do Vietnã...

Leila Sterenberg — Joseph Roth, com A Cripta dos Capuchinhos?

Bernhard Schlink — Eu escrevi O Leitor nos anos 1990 sobre os 1950, 1960. E agora começa a literatura sobre a Alemanha Oriental. Não sei se é literatura para lidar com o passado. É uma literatura sobre o passado. As pessoas vivem como foram moldadas também durante a próxima geração por meio desses destinos, acontecimentos e capacidades. É uma forma de assegurar isso na literatura.

Leila Sterenberg — O senhor nasceu no início dos anos 40. Como é sua relação pessoal com a guerra e o pós-guerra?

Bernhard Schlink — Eu cresci na Alemanha do pós-guerra. Tive a sorte de ser criado em Heidelberg. A cidade não foi destruída. Meus avós moravam não muito longe, em Darmstadt. É essa minha lembrança. O caminho da estação até o povoado deles, atravessando lugares destruídos que logo foram reconstruídos. E os veteranos de guerra, que voltavam para o país. Os feridos, os danos causados à imagem da cidade. Era um mundo à parte a Alemanha pós-guerra.

Leila Sterenberg — O conto O Outro, do livro Amores em Fuga, também foi filmado. Nele, o marido de Lisa prefere lidar com seu próprio passado? O conto não trata do passado alemão, e sim conta uma história pessoal.

Bernhard Schlink — Muitas das minhas histórias não têm a ver com o passado. Elas narram destinos ou momentos da vida.

Leila Sterenberg — E o que o senhor acha dessa filmagem?

Bernhard Schlink — Com esse filme, não fiquei tão satisfeito. Os atores são excelentes. O diretor fez um ótimo trabalho. Mas acho que o filme tenta amplificar uma história calma e parada. Isso não funcionou. Ele transforma uma história melancólica, com um fim melancólico, num final feliz. Isso me incomodou.

Leila Sterenberg — Também em Amores em Fuga, há um conto que tem a ver com a Alemanha Oriental. Não é só com a guerra que se deve lidar hoje mas também com as ações da Stasi?

Bernhard Schlink — Não dá para comparar. De jeito nenhum. De fato, existe o papel da Stasi em relação à família. Também na amizade, relações estreitas. E os envolvidos têm que conviver com isso. Sim, de certa forma, é lidar com o passado.

Leila Sterenberg — O que a reunificação significou para o senhor?

Bernhard Schlink — Estou em Berlim desde janeiro de 1990. Vivi intensamente a reunificação, os debates sobre a constituição da Alemanha Oriental, a recuperação da Universidade de Humboldt. A reunificação é um momento muito feliz na minha vida. Era a Alemanha dividida novamente junta, crescendo junto. Isso me deixa feliz. Volta e meia penso nisso. Vou de bicicleta para a universidade, cruzo o Portal de Brandenburgo e penso: “Eu vivi isso.”

Leila Sterenberg — O senhor é professor e tem contato com os jovens. Ser alemão é uma carga também para a nova geração?

Bernhard Schlink — De uma geração para outra, isso se aliviou. Meus alunos passam um ano de estudos na Holanda, na França, em Israel... Se alguém toca no assunto do passado alemão, eles sabem que é por causa de um trauma na família. Eles sentem que têm uma dívida. Eles sabem e isso é bom. Mas experimentam o passado como algo que preocupa, um passado difícil, violento. Mas a sensação de culpa tem desaparecido na geração jovem.

Leila Sterenberg — A Justiça em geral está muito longe das pessoas comuns. O senhor não concorda?

Bernhard Schlink — O Supremo Tribunal é a instituição mais bem vista na Alemanha. Antes do presidente, do Parlamento, do governo. Mesmo das instituições sociais. É uma instituição que não tem um caráter de distância. Desperta uma confiança. As transmissões dos julgamentos são um tema que gera grande discussão. O argumento é claro. Pode haver uma educação ao se confiar na Justiça e conhecer o Direito. O problema é que há também um teatro em que os participantes fazem o papel deles mesmos. Se atuam para um público, não se alteram certas condições. Existem lados diferentes. Ainda não decidimos a tornar isso público. Ou seja, na mídia.

Leila Sterenberg — Quando o Supremo Tribunal alemão reconheceu as medidas de resgate de vigilância aos bancos, eu pensei: “O futuro da Europa está nas mãos desses juízes.” É uma enorme responsabilidade.

Bernhard Schlink — É uma responsabilidade enorme. E os juízes fazem apenas algumas pequenas correções. Eles sabem que, quando as decisões andam nessa direção, não podem simplesmente mandar caminhar em outra direção. Um tribunal não pode fazer isso. Pode fazer somente pequenas correções. É essencial que se envolva o Parlamento. A Câmara zela por reforçar o envolvimento do Parlamento. O governo tem uma tendência de se bastarem. A Câmara lembra a eles que não é bem assim.

Leila Sterenberg — O senhor dá aula de Filosofia do Direito. Por causa do desenvolvimento da ciência e da tecnologia, existem novos temas para os filósofos do Direito?

Bernhard Schlink — Sempre existem novos temas. Sempre existem os antigos, que se renovam. Perguntas sobre justo e injusto, responsabilidade... São antigas, mas podem estar sempre novas. Mas, com o desenvolvimento da Biomedicina da indústria e da técnica e das mudanças na comunicação, existem novos ajustes entre as pessoas, novas possibilidades sobre o que fazem pelas outras, para o bem ou para o mal, novas perguntas sobre o que é justo ou não... Disso se ocupam os filósofos do Direito.

Leila Sterenberg — E as perguntas que nos fazemos há séculos: “O que é o Direito?” “Qual é o limite entre a Lei e a ética individual?”

Bernhard Schlink — Assim como o limite entre a vida e a morte. “Quando começa a vida humana?” “Se é o indivíduo, o ser humano, como devemos lidar com isso?” Essas são perguntas novas.

Leila Sterenberg — A literatura pode responder a alguma dessas questões melhor do que Lei?

Bernhard Schlink — Existe um desdobramento dos problemas, um desdobramento de complexidade no psíquico, mas também no trato das pessoas umas com as outras, que a literatura encontra de um modo melhor. Melhor que o Direito, a Psicologia, a Sociologia. Existe uma dimensão humana que a literatura capta melhor. Não soluciona problemas, pois não é sua tarefa. Elas nos dão uma calma para lidar com os problemas.




Fonte: Revista Consultor Jurídico, 12 de julho de 2013.

quarta-feira, 26 de junho de 2013

"[...] aquela mandante amizade"




Sempre que se começa a ter amor a alguém, no ramerrão, o amor pega e cresce é porque, de certo jeito, a gente quer que isso seja, e vai, na idéia, querendo e ajudando; mas quando é destino dado, maior que o miúdo, a gente ama inteiriço fatal, carecendo de querer, e é um só facear com as surpresas. Amor desse, cresce primeiro, brota é depois. 


(Extrato de "Grande Sertão Veredas", Guimarães Rosa)














sexta-feira, 24 de maio de 2013

Reflexão do dia: "Só o Presente é Verdadeiro e Real", Schopenhauer.



Um ponto importante da sabedoria de vida consiste na proporção correcta com a qual dedicamos a nossa atenção em parte ao presente, em parte ao futuro, para que um não estrague o outro. Muitos vivem em demasia no presente: são os levianos; outros vivem em demasia no futuro: são os medrosos e os preocupados. É raro alguém manter com exactidão a justa medida. Aqueles que, por intermédio de esforços e esperanças, vivem apenas no futuro e olham sempre para a frente, indo impacientes ao encontro das coisas que hão-de vir, como se estas fossem portadoras da felicidade verdadeira, deixando entrementes de observar e desfrutar o presente, são, apesar dos seus ares petualentes, comparáveis àqueles asnos da Itália, cujos passos são apressados por um feixe de feno que, preso por um bastão, pende diante da sua cabeça. Desse modo, os asnos vêem sempre o feixe de feno bem próximo, diante de si, e esperam sempre alcançá-lo.


Tais indivíduos enganam-se a si mesmos em relação a toda a sua existência, na medida em que vivem ad interim [interinamente], até morrer. Portanto, em vez de estarmos sempre e exclusivamente ocupados com planos e cuidados para o futuro, ou de nos entregarmos à nostalgia do passado, nunca nos deveríamos esquecer de que só o presente é real e certo; o futuro, ao contrário, apresenta-se quase sempre diverso daquilo que pensávamos. 

O passado também era diferente, de modo que, no todo, ambos têm menor importância do que parecem. Pois a distância, que diminui os objectos para o olho, engrandece-os para o pensamento. Só o presente é verdadeiro e real; ele é o tempo realmente preenchido e é nele que repousa exclusivamente a nossa existência. Dessa forma, deveríamos sempre dedicar-lhe uma acolhida jovial e fruir com consciência cada hora suportável e livre de contrariedades ou dores, ou seja, não a turvar com feições carrancudas acerca de esperanças malogradas no passado ou com ansiedades pelo futuro. Pois é inteiramente insensato repelir uma boa hora presente, ou estragá-la de propósito, por conta de desgostos do passado ou ansiedades em relação ao porvir. 


 

          Arthur Schopenhauer (filósofo alemão) , in 'Aforismos para a Sabedoria de Vida'.




sexta-feira, 17 de maio de 2013

Revisitando Drummond: "Tarde de Maio"


Como esses primitivos que carregam por toda parte o
maxilar inferior de seus mortos,
assim te levo comigo, tarde de maio,
quando, ao rubor dos incêndios que consumiam a terra,
outra chama, não perceptível, tão mais devastadora,
surdamente lavrava sob meus traços cômicos,
e uma a uma, disjecta membra, deixava ainda palpitantes
e condenadas, no solo ardente, porções de minh’alma
nunca antes nem nunca mais aferidas em sua nobreza
sem fruto.


Mas os primitivos imploram à relíquia saúde e chuva,
colheita, fim do inimigo, não sei que portentos.
Eu nada te peço a ti, tarde de maio,
senão que continues, no tempo e fora dele, irreversível,
sinal de derrota que se vai consumindo a ponto de
converter-se em sinal de beleza no rosto de alguém
que, precisamente, volve o rosto e passa…
Outono é a estação em que ocorrem tais crises,
e em maio, tantas vezes, morremos.


Para renascer, eu sei, numa fictícia primavera,
já então espectrais sob o aveludado da casca,
trazendo na sombra a aderência das resinas fúnebres
com que nos ungiram, e nas vestes a poeira do carro
fúnebre, tarde de maio, em que desaparecemos,
sem que ninguém, o amor inclusive, pusesse reparo.


E os que o vissem não saberiam dizer: se era um préstito
lutuoso, arrastado, poeirento, ou um desfile carnavalesco.
Nem houve testemunha.


Nunca há testemunhas. Há desatentos. Curiosos, muitos.
Quem reconhece o drama, quando se precipita, sem máscara?
Se morro de amor, todos o ignoram
e negam. O próprio amor se desconhece e maltrata.
O próprio amor se esconde, ao jeito dos bichos caçados;
não está certo de ser amor, há tanto lavou a memória
das impurezas de barro e folha em que repousava. E resta,
perdida no ar, por que melhor se conserve,
uma particular tristeza, a imprimir seu selo nas nuvens.


(Carlos Drummond de Andrade)


 (Foto: Giselle Borges Alves. Arquivo de celular. Maio/2013. "Céu das Gerais").


 

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Frase do dia, por Peter Kreeft



“Nossa  cultura encheu nossas cabeças, mas esvaziou nossos corações, estufou  nossas carteiras e esfomeou nosso maravilhamento. Saciou nossa sede por  fatos, mas não por sentido ou mistério. Ela produz pessoas 'legais' não  heróis.”

(Peter Kreeft)



*Peter J. Kreeft é professor de filosofia no Boston College e no King´s College (Empire State Building), na cidade de Nova Iorque. Autor de vários livros sobre filosofia e cristianismo.

terça-feira, 23 de abril de 2013

Dica de leitura do dia: Montaigne e a passagem da definição da natureza humana à consideração da condição humana

Montaigne e a passagem da definição da natureza humana à consideração da condição humana

Segundo Celso Martins Azar Filho, a partir do olhar de Montaigne se define o ensaio como um olhar livre sobre a condição humana em sua cotidianidade constitutiva, que considera a filosofia algo a ser constantemente alcançado

Por: Márcia Junges e Graziela Wolfart

Michel Eyquem de Montaigne, escritor e ensaísta francês, considerado como o inventor do ensaio pessoal, tem como uma de suas obras principais justamente a intitulada Ensaios, em que analisa as instituições, opiniões e os costumes. Para o professor Celso Martins Azar Filho, a atualidade da obra deve ser buscada precisamente em sua singularidade histórica. “É por esta que se chega a compreender o valor perene da crítica ensaística da mistificação filosófica – e principalmente daquela espécie mais perigosa a qual, hoje como então, se pretenderia justamente desmistificadora. E para entender como o ensaio pode ser um caminho filosófico para o enfrentamento deste e outros de nossos males existenciais em sua face contemporânea, é preciso perceber como Montaigne realça o caráter tanto atemporal como o absolutamente particular e ocasional dos acidentes que abraça o destino humano, a qual só se deixa tocar no presente puro”, afirmou, na entrevista que concedeu por e-mail à IHU On-Line. A seu ver, os Ensaios “constituem um microcosmo surpreendentemente rico e sugestivo, cobrindo em suas páginas um largo campo da cultura renascentista: eles falam por si”. 

Celso Martins Azar Filho é professor no Departamento de Filosofia da Universidade Federal Fluminense – UFF. Graduado, mestre e doutor em Filosofia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, é professor colaborador na instituição, sendo autor de A filosofia de Montaigne – Introdução ao pensamento renascentista (Rio de Janeiro: Editora Gama Filho, 2009).

Confira a entrevista. 

IHU On-Line – Em que consistia a posição singular de Montaigne com relação às diversas faces da tradição neoplatônica?

Celso Martins Azar Filho – Montaigne  não é um pensador neoplatônico, ou seja, os Ensaios não podem ser filiados à tradição neoplatônica. Isso posto, é preciso, porém, reconhecer a sobrevivência de traços daquela tradição em seu pensamento. Como se sabe, o retorno ao saber antigo no Renascimento tem por centro, sobretudo, obras da antiguidade tardia: as ideias e autores helenísticos – seja em função de seu cosmopolitismo, de sua absorção pelo cristianismo ou de seu bilinguismo – têm um peso determinante na época renascentista; através deles, boa parte das vezes são lidos os textos clássicos. E é a partir do ressurgimento de suas novas fontes, como Diógenes de Laércio e Lucrécio, que a compreensão da tradição será muito frequentemente reordenada pelos humanistas. Ora, por diversas razões, entre as quais deve ser destacado o aspecto de novidade, o momento é em larga medida um momento de confusão dos pontos de vista de cada escola e de seu sincretismo em torno de noções comuns, como o viver segundo a natureza ou o conceito de sabedoria. O ensaísta vai aproveitar as dissensões e composições de ideias daí resultantes a seu favor, recombinando elementos de tradições diversas, e jogando com suas oposições, para apresentar novas soluções a partir de uma reconstrução dos problemas filosóficos antigos e medievais. É levando em conta a posição singular de Montaigne com relação às diversas faces da tradição neoplatônica e, por extensão, helenística, examinando a recombinação de seus vários e heterogêneos elementos no ensaio, que se pode abrir um novo caminho para a sua interpretação: este trabalho ainda está por ser realizado. Para tanto seria interessante partir de duas características especialmente relevantes nesta tradição de pensamento: primeiro, o neoplatonismo constitui-se em grande parte como fenômeno linguístico, isto é, uma forma filosófica que possui uma relação especial com a linguagem; e os problemas de expressão e comunicação, que sempre estiveram no centro dos seus interesses, vão adquirir uma relevância ainda maior a partir da recepção humanista. Segundo, falar do neoplatonismo renascentista significa falar da retomada do hermetismo no novo enquadramento do naturalismo prático pré-moderno – magia –, e é claro que estamos aqui diante de uma das faces do ideal de transformação do mundo e do homem, característica da filosofia renascentista, tanto motor quanto sintoma das transformações desta época, em sua visão mais prática e experimental do conhecimento – que a irmana à filosofia helenística, e será decisiva no advento da nova ciência moderna. Em seu livro La Philosophie comme manière de vivre Pierre Hadot  conta como o ensaio Que filosofar é aprender a morrer foi um dos textos que o conduziram a representar a filosofia como algo diferente de um discurso meramente teórico. Nota ainda que nos Ensaios a natureza humana aparece de tal forma complexa que autoriza todas as atitudes – ceticismo e fé, rigor estoico e distensão epicurista, por exemplo. Mas o mais importante na leitura de Hadot é a afirmação da disposição prática da filosofia moral ensaística. E seria possível recolher diversos testemunhos concordantes sobre este ponto. Note-se como Daniel Martin, em seu famoso estudo sobre a noção de fortuna em Montaigne define os Ensaios como exercícios espirituais “destinados a nos conduzir ao alto, em direção à Forma, partindo da linguagem, ou seja, da Fortuna”. Para este intérprete o pensamento montaigniano pode ser definido como neoplatônico, posição minoritária certamente no conjunto da fortuna crítica da filosofia ensaística, mas não isolada: Michaël Baraz, por exemplo, em seu L’être et la connaissance selon Montaigne, defende uma interpretação semelhante da obra montaigniana (ressaltando a influência de Platão ele mesmo) – a concentração no instante presente, que cruza sincronia e diacronia, embebendo narração e reflexão, fazendo a escrita se desdobrar e adensar em ritmos e sentidos para revelar, na obra, o cosmos. Muitas outras noções constitutivas da obra poderiam ser referidas a uma matriz neoplatônica ou platonizante: a busca de transcendência na imanência, por exemplo, ou a forma como o atomismo lucreciano e o “tudo está em tudo” alquímico e hermético são conectados, etc. É evidente, contudo, que uma diferença básica deve ser discernida: não são de exercícios espirituais apenas de que tratam os Ensaios, mas também são físicos aqueles que o ensaísta recomenda. Muitos tomaram o “filosofar é aprender a morrer” montaigniano como neoplatônico apenas. Entretanto, não está em questão aqui se preparar para o outro mundo, mas para este. O ensaio é tanto uma janela como um espelho; é tanto uma representação do mundo como sua reconstrução em nós mesmos. Sua função é servir como ferramenta linguística do harmonizar dos mundos externos e internos no agir – hoje, agora.

IHU On-Line – Que novos caminhos se abrem para a sua leitura a partir de uma análise acurada de “Os ensaios”?

Celso Martins Azar Filho – Os novos caminhos são semelhantes aos que se abrem para a filosofia renascentista como um todo, cujos horizontes tem se alargado de maneira paulatina, mas constante, principalmente por conta de uma historiografia mais competente, progressivamente se purificando dos preconceitos românticos ou positivistas desde o final do próprio século XIX, e de maneira acelerada a partir mais ou menos do segundo quartel do século XX. O acesso aos textos tem sido desde então facilitado e crescente bibliografia passa a tomar o tema como objeto de pesquisa. Mas ainda há muito caminho por trilhar. A começar pela questão sempre atual da definição mesma não só do que seja a filosofia renascentista, mas a Renascença ela mesma. E principalmente porque o momento de transição, como é comum qualificá-lo, entre a Idade Média e a Modernidade, época histórica ou movimento cultural denominado “Renascimento” – o qual se estenderia, para marcar limites, certamente bastante imprecisos (e não apenas no sentido cronológico), entre Ockham  e Descartes  – sofreu, como momento filosófico, um eclipse que somente começará a ser superado pela historiografia posterior a 1850. E até cerca de 1930, um julgamento em geral superficial e negativo será determinante nas orientações de sua progressiva recuperação. Existem diversas razões para tanto – resultantes de preconceitos intelectuais, políticos, religiosos, etc., vindos do início do Classicismo, fortalecidos por volta do fim do Iluminismo, e sobrevivendo ainda hoje, mesmo se apenas isoladamente. Assim, estamos ainda nos tempos heroicos do estabelecimento de interpretações canônicas e, portanto, de um lugar na história da filosofia para o pensamento ensaístico; estamos mesmo ainda nas primeiras leituras que esta registrará um dia como formadoras. Pois esta é nossa relação hodierna para com o pensamento renascentista em geral, o qual apenas começa a receber atenção historiográfica digna da importância de suas manifestações – o que tem mudado completamente o quadro de sua avaliação. Por exemplo, a influência do nominalismo ou do epicurismo na filosofia montaigniana como no Renascimento em geral é hoje muito melhor conhecida do que há poucas décadas por ter sido melhor traçada e comprovada documentalmente. Assim, os novos caminhos sobre os quais é questão são caminhos que têm sido abertos como renovação da investigação dos propósitos de constituição mesmos de todo historiar da filosofia, dos seus eixos diretores de sentido, para elaboração de novos paradigmas que dependem de uma meditação dos antigos – e esta é uma ideia renascentista, tal como a metáfora do ressurgimento, da ressurreição ou reencarnação para definir o movimento da história (sendo Antiguidade, Idade Média e Renascimento termos que definem para nós as grandes fases deste movimento, termos renascentistas). Em suma, trata-se hoje ainda de se criarem os caminhos de interpretação da filosofia dos Ensaios – algo que eu diria contar menos de um século como tradição acadêmica – e isso só se fará, como se tem feito, no abrir de novos caminhos para a história da filosofia ela mesma.

IHU On-Line – Qual é a atualidade dos Ensaios?

Celso Martins Azar Filho – Sua atualidade deve ser buscada precisamente em sua singularidade histórica. É por esta que se chega a compreender o valor perene da crítica ensaística da mistificação filosófica – e principalmente daquela espécie mais perigosa a qual, hoje como então, se pretenderia justamente desmistificadora. E para entender como o ensaio pode ser um caminho filosófico para o enfrentamento deste e outros de nossos males existenciais em sua face contemporânea, é preciso perceber como Montaigne realça o caráter tanto atemporal como o absolutamente particular e ocasional dos acidentes que abraça o destino humano, a qual só se deixa tocar no presente puro. Define o ensaio um olhar livre sobre a condição humana em sua cotidianidade constitutiva, olhar que considera a filosofia algo a ser constantemente alcançado in media res. Para criar um discurso capaz de exprimir todas as tensões do momento presente em ato, compreendendo que nossas decisões e atitudes já são parte da conjuntura, e daí pensar o aprimoramento da própria personalidade em seu desenvolvimento mesmo, uma nova forma do discurso filosófico deve ser criada. Uma forma que já entenda a própria teoria como prática, a escrita como gesto, e que exprima o vínculo entre a busca da verdade e sua comunicação, por compreendê-la como construção. E é preciso que se veja bem que nada disso é pós-moderno, mas pré-moderno. Todo cuidado com o historicismo: muito frequentemente se busca na escrita dos Ensaios sinais do advento da modernidade e daí para uma visão anacrônica, que lê o pensamento montaigniano a partir de uma ótica filosófica posterior, não se dá mais que um passo. Destarte, aquilo que, por um lado, poderia ser tachado de primitivo – o fato de não se ter ainda aí uma teoria do conhecimento nos moldes modernos –, faz com que, por outro lado, a razão para tanto – que a busca de conhecimento seja compreendida no interior da ação – pareça-nos algo de revolucionário.

IHU On-Line – Como essa obra foi recebida quando de sua publicação? 

Celso Martins Azar Filho – A obra foi o que se poderia chamar de sucesso editorial (guardadas, evidentemente, as devidas distâncias com relação às proporções de nosso atual mercado editorial). E muito já foi escrito sobre o papel dos Ensaios na formação da consciência moderna, este que foi segundo Erich Auerbach o primeiro livro da autoconsciência leiga. Mas o dado, sobretudo, digno de nota com relação à recepção da obra montaigniana consiste na dificuldade de assimilação e mesmo recusa de seu espírito e disposição geral, seja por sua forma singular ou por seu conteúdo extremamente pessoal, pela tradição filosófica a partir do século XVII. O que vai ocasionar sua aparentemente pequena repercussão filosófica, cuja causa está principalmente na ingratidão de seus principais herdeiros com relação à sua dívida frente à obra montaigniana. É interessante marcar que tal se dá principalmente por conta de uma dificuldade de compreensão dos problemas formais que a realização do projeto filosófico montaigniano ocasiona: é uma ironia que a nota mais original da filosofia ensaística – a relação inovadora entre forma e conteúdo – tenha sido principalmente o que dificultou sua aceitação – e isso poderia ser estendido em parte para a recepção geral da filosofia renascentista.

IHU On-Line – Qual é a peculiaridade das descrições de Montaigne sobre a natureza humana?

Celso Martins Azar Filho – Montaigne passa das tentativas de definir a natureza humana à consideração da condição humana. E, quando se busca na escrita montaigniana sinais do advento da modernidade, é precisamente esta passagem que normalmente se destaca. Por exemplo, como mostrou Tzvetan Todorov , a amizade nos Ensaios, elemento fundamental na filosofia da felicidade aí presente, se destaca como nota peculiar da visão montaigniana sobre a condição humana por seu caráter autorreferente (algo de essencial à consciência ou ao espírito modernos – se pudermos utilizar estes conceitos evitando sua hipostasia em categorias históricas): as razões da amizade entre Montaigne e La Boètie não são éticas, políticas, etc., como eram aquelas das amizades modelares retratadas pela filosofia moral pregressa, mas tocam à singularidade e particularidade das relações e sujeitos envolvidos, resumindo-se à “porque era ele, porque era eu” – e tal definição constitui um dos atos de nascimento do indivíduo moderno.

IHU On-Line – Como pode ser compreendido o ceticismo de Montaigne? 

Celso Martins Azar Filho – Em primeiro lugar, realçando o impulso para o conhecimento que o próprio sentido do termo “cético” significava na origem. Mas é preciso notar que, além de cético, o ensaísta foi denominado cínico, socrático, estoico, epicurista, etc., pela tradição, assim como pelos especialistas hoje. Claro que se somos forçados a escolher entre simplificações, a menos simplista no caso seria ter o ensaísta por cético. Todavia, Montaigne, se é cético, é de um ceticismo sui generis (e seguindo assim poderíamos, aliás, colar nele seja lá que rótulo escolhêssemos). Logo, se hoje parece haver certa concordância entre os comentadores dos Ensaios em considerar seu autor como um “cético” – e existem razões de nenhuma forma descabidas para que o façam –, devemos, porém, reconhecer que, com relação à sua filosofia, como é comum acontecer com as obras dos grandes pensadores, as comparações – venham de onde vierem – não serão nunca completamente válidas. Os Ensaios constituem um microcosmo surpreendentemente rico e sugestivo, cobrindo em suas páginas um largo campo da cultura renascentista: eles falam por si.

IHU On-Line – Quais são os pensadores que influenciaram sua obra? 

Celso Martins Azar Filho – Inúmeros, e tantos quantos ele próprio influenciou na filosofia ou na literatura em geral. Montaigne mantinha em sua torre biblioteca invejável para a época e daí dominava um vasto campo da literatura filosófica.


Fonte: Ihu On Line.

segunda-feira, 25 de março de 2013

A leitura como aventura e paixão


Carta na Escola
5 de novembro de 2010 às 16:36h



"O professor nunca deve proibir um livro. Mesmo que a obra seja ruim ou inadequada, a missão do educador é fazer o aluno entender os motivos disso".

Por Moacyr Scliar


O romance de Ray Brad-bury, Fahrenheit 451, publicado em 1953, fala-nos de  um futuro em que opiniões pessoais e o pensamento crítico são considerados coisas perigosas e no qual  todos os livros são proibidos e queimados: o número 451 do título refere-se à temperatura (em graus Fahrenheit) na qual o papel pega fogo. Trata-se, obviamente de ficção, mas houve momentos em que essa ficção expressou a realidade. 

A censura acompanhou como um sombrio espectro boa parte da história da humanidade. O próprio termo “censor”, que é latino, data do século quinto antes de Cristo, quando o Império Romano delegou a funcionários a tarefa de moldar o caráter das pessoas. Mas não só em Roma acontecia isso; na Grécia clássica, em 399 a.C., o filósofo Sócrates foi condenado à morte por difundir entre jovens ideias consideradas perigosas. Desde então, não foram poucos os regimes totalitários que prenderam ou mataram aqueles que ousavam contestá-los.

A partir da invenção da imprensa, por Johannes Gutenberg, no século XV, o livro impresso passou a ser um alvo preferencial nesse processo. Já em 1559, a Igreja estabelecia o Index Librorum Prohibitorum, a lista de livros que os fiéis não podiam ler, e que teve mais de 20 edições, antes de ser definitivamente suprimida em 1966. As autoridades civis exerciam poder semelhante; em 1563, o rei Carlos IX, da França, baixou decreto estabelecendo que nenhuma obra podia ser impressa sem permissão do rei. Nos séculos que se seguiram, e sob várias formas e pretextos, livros foram proibidos e até queimados, como aconteceu na Alemanha nazista. Os motivos, ou pretextos, eram de várias ordens: morais, políticos, militares. Nos Estados Unidos, em vários lugares e por várias instituições, foram censurados livros como Chapeuzinho Vermelho (numa das versões a menina oferece vinho para a sua avó), Alice no País das Maravilhas (os animais falam com linguagem humana), a coleção Harry Potter (supostamente promove bruxaria). Numa época, direções de escolas no Rio Grande do Sul proibiram os livros de Erico Verissimo, porque achavam ser imorais.

No Brasil, tivemos um período de censura severa, quando do regime autoritário (1964-1985). As razões apresentadas não raro beiravam o ridículo; numa exposição de “material subversivo” apreendido em Porto Alegre, havia um livro com a seguinte legenda: “Obra esquerdista em chinês”. Era uma Bíblia em hebraico. Mais recentemente, e nas escolas, surgiram problemas com livros que narravam cenas de sexo e de violência, às vezes selecionados por técnicos da área educacional. Por outro lado, sabemos que a disseminação da pornografia e da violência é cada vez mais frequente. E isso sem falar na questão do politicamente correto, que procura evitar palavras ou expressões potencialmente ofensivas a grupos étnicos ou religiosos, ou a opções sexuais.  Pergunta: o que devem fazer os pais e educadores diante dessa situação?

Creio que uma expressão consagrada pela saúde pública aqui se aplica perfeitamente: é melhor prevenir do que remediar. E isso por uma simples razão: é tão grande o volume de informações atualmente disseminadas, não só por livros, mas também pela internet, por vídeos, pela própria tevê, que é impossível evitar o acesso de crianças e jovens a esse material. O melhor é prepará-los para que possam identificar os potenciais riscos que estão ocorrendo. Mas há um aspecto adicional. Esses riscos não são como os do fumo ou das drogas, substâncias sempre nocivas, e que, em qualquer dose, envenenam o organismo. O material veiculado pelos meios de comunicação pode se transformar numa fonte de aprendizado. É como vacinar uma pessoa: ela é inoculada com germes inativos e seu organismo preparará anticorpos que vão defender essa pessoa de doenças. Isso exige um estreitamento dos laços entre pais e professores, de um lado, e os jovens de outro. No caso da tevê, por exemplo, é muito bom que o pai ou a mãe sente ao lado da criança e converse com ela sobre o que aparece na tela. Também é muito bom que os pais leiam para os filhos quando esses ainda são pequenos. Isso, além de introduzir a criança ao mundo dos livros, representará um vínculo emocional que persistirá por toda a vida. O menino e a menina associarão o livro à imagem protetora do pai ou da mãe.

Em relação à escola, vale o mesmo raciocínio. Quando um jovem me pergunta que livros deve ler, respondo: “Em primeiro lugar, aqueles que os professores indicam; eles conhecem o assunto, eles têm condições de fazer boas recomendações”. Mas nunca digo que o jovem não deve ler tal ou qual obra, tal ou qual autor. Meu aprendizado como leitor passou por livros que depois considerei tolos ou ruins. Mas isso foi útil para que eu pudesse aprender a formar o meu juízo crítico. Na leitura, a gente avança pelo método de tentativa e erro, de aproximações sucessivas.

Em resumo, proibir ou censurar, não. Recomendar, debater, ensinar, sim. Vivemos num mundo cheio de imperfeições e perigos, e o que podemos fazer com nossos filhos e alunos é ensiná-los a navegar por esse mar turbulento, em navios cujas velas são as páginas da grande literatura. Ler é aventura, ler é paixão. 






quinta-feira, 21 de março de 2013

Tudo diferente


"Todos caminhos trilham pra a gente se ver
Todas as trilhas caminham pra gente se achar, viu
Eu ligo no sentido de meia verdade
Metade inteira chora de felicidade.

A qualquer distância o outro te alcança
Erudito som de batidão
Dia e noite céu de pé no chão
O detalhe que o coração atenta".


("Tudo diferente" - Maria Gadú. Compositor: André Carvalho)





terça-feira, 12 de março de 2013

Reflexão, oração e silêncio.



Existem muitas coisas na vida que valem realmente à pena.
Outras sequer valeriam que trocássemos horas de sono pensando nelas.
Entretanto, pensamos.
A reflexão muitas vezes é irmã gêmea da razão e pode trazer a resposta certa ou, simplesmente, acalmar o coração aflito.
Mas nada é tão bom quanto a oração.
Sobre todas as dificuldades, encontros, palavras ditas, a reflexão e a oração podem ser o afago necessário para as horas em que você precisava desabafar com alguém, mas no fundo prefere guardar o sentimento.
Nem sempre falar é fácil. O silêncio também é necessário.
Conjugar silêncio, reflexão e oração pode trazer além da resposta certa e do afago necessário, a serenidade para escolher como proceder, o melhor caminho a seguir.
Em instantes descobrimos que por mais que nos sentíssemos sozinhos, uma imensa paz invade o ambiente e acalenta a alma.
O que era dúvida, desencanto ou dificuldade, talvez não deixe de ser dúvida, desencanto ou dificuldade. Mas o que é certo é que em algum lugar dentro de nós existe algo que se sobressai, que muitas vezes não tem nome e, no entanto, é capaz de nos colocar de pé novamente e prontos para enfrentar qualquer adversidade.
Até para pessoas que não tem muita experiência com encontros de fé  - como eu -, não há como negar que algo está transformado e que a partir daquele instante também estamos aptos a transformar a realidade na qual estamos inseridos.

(Gisa Borges)


quarta-feira, 6 de março de 2013

Não viva em vão, afinal todos buscamos um lugar ao sol


"Se viver requer coragem então...
Viva para ser feliz e não viva em vão
Se viver requer coragem então...
Viva para ser feliz e não viva em vão."

("Não viva em vão" - Charlie Brown Jr.)




"Um dia eu espero te reencontrar numa bem melhor
Cada um tem seu caminho, eu sei foi até melhor
Irmãos do mesmo Cristo, eu quero e não desisto.
Caro pai, como é bom ter por que se orgulhar
A vida pode passar, não estou sozinho
Eu sei se eu tiver fé eu volto até a sonhar.
Livre pra poder sorrir, sim
Livre pra poder buscar o meu lugar ao sol."
("Lugar ao sol" - Charlie Brown Jr).

Eterno Chorão, descanse em paz! Valeu por tudo!
#RIPChorão - 06/03/2013.





sexta-feira, 1 de março de 2013

Frase desta sexta-feira...




"Fechei os olhos e pedi um favor ao vento: Leve tudo o que for desnecessário. Ando cansada de bagagens pesadas... Daqui para frente levo apenas o que couber na bolsa e no coração."

(Cora Coralina)






terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Porta aberta



A porta está aberta
Deixe entrar o que há de bom.
Quem traz sorriso, quem traz descobertas
Quem quer dividir, quem aceita multiplicar experiências.
Quem evoca a sensibilidade
Quem constrói ao invés de destruir
Quem traz uma rosa para combater a maldade
Quem quer descortinar o porvir...
Apenas estes, deixo e deixe entrar.


(Gisa Borges)





quarta-feira, 23 de janeiro de 2013


Tem dias que as palavras faltam...
Outros em que é melhor nem usá-las.
Acomode-as.


                                                        (Gisa Borges)