terça-feira, 14 de setembro de 2010

Qual a nossa capacidade de sermos humanos?

Ontem resolvi pensar um pouco nos acontecimentos da semana passada, voltados à divulgação da notícia sobre o pastor de uma igreja norte-americana que cogitou queimar o Alcorão (livro que contém a doutrina islãmica), pelo simples fato de não querer que um templo islã fosse erguido próximo ao local do atentado contra as "Torres Gêmeas", no centro de Nova York, que ocorreu em 2001.

Ao longo da história humana muitos insistem em dizer que inúmeras guerras foram travadas em nome de um "Deus" e das "regiliões". Eu me recuso a pensar desta forma. Inúmeras guerras foram travadas em nome da intolerância, da falta de respeito do ser humano com o seu semelhante e da falta de bom senso aliada ao fanatismo e a distorção das idéias de fraternidade e amor que foram dissemidas pelos verdadeiros cristãos.

Longe de ser uma boa entendedora do assunto, haja vista que abdiquei de pertencer a qualquer religião ainda no início da minha adolescência, justamente porque não concordava com muitas coisas que acontecem dentro das igrejas neste país laico, não quero aqui expressar nenhum tipo de ceticismo ou pregar qualquer dogma religioso, mas não pude deixar de escrever sobre o assunto.
Após todo o alvoroço e passada a semana em que protestos foram sentidos por vários cantos do mundo e inclusive, mais sangue foi jorrado no Oriente Médio em virtude de manifestações desproporcionais e vergonhosas, como a deste líder religioso dos Estados Unidos, atenho-me agora a simplesmente compreender: Qual a nossa capacidade de sermos humanos?

Nos vangloriamos muitas vezes por sermos seres racionais e equilibrados, mas atentamos contra a nossa própria espécie por motivos fúteis, por motivações vergonhosas.

A intolerância a determinada crença ou religião, não é privilégio apenas dos nossos parceiros norte-americanos. No Brasil, apesar de tantas manifestações acerca da liberdade religiosa, também existe este tipo de intolerância, mesmo que não seja dado tamanho enfoque. Muitos dos que se dizem cristãos, desrespeitam o seu próximo porque ele acredita em determinada doutrina que difere do pensamento da maioria. A única diferença é que o brasileiro consegue ser mais discreto, pelo menos a grande maioria, e dissemina a sua discriminação através pregações distorcidas dentro das próprias igrejas para os seus "fiéis" e se esquecem que a "Casa do Senhor" é o local onde o amor ao próximo, a liberdade, a solidariedade e o respeito devem ser repassados. Claro que toda regra tem exceção, e existem religiões e autoridades que as comandam que sabem o verdadeiro sentido de se ter a Igreja como alicerce pacificador.

Muitos se perguntam qual a propriedade que eu tenho para falar destas atitudes, se acima eu disse claramente que abdiquei de pertencer a qualquer religião.

Bem, digo-lhes que já fui em várias igrejas, sou uma curiosa sobre o assunto e é exatamente por isso que decidi por acreditar em Deus sem me ater a determinada religião. Justamente por verificar tanta intolerância mascarada e uma dissimulação dos ideais de paz e amor em Cristo, para tentar atender aos próprios interesses de continuidade de determinada igreja, é que decidi não seguir.

O amor ao próximo e o perdão divino não é sentido quando você trava uma batalha contra outras crenças, dogmas ou religiões. Cada uma delas tem seu valor e seu sentido ao longo da caminhada de qualquer ser humano e exerce grande influência na humanidade. Mas o verdadeiro amor em Cristo está no coração de cada ser humano, no que ele realmente sente em relação a cada um.

As disputas por poder já atingiram os templos religiosos, não estão mais adstritos aos chefes de nações ou disputas comerciais. Vivemos hoje mais uma vez uma éra de medo motivada pela intolerância humana.

Há algum tempo, um comercial de TV fazia uma aluzão ao racismo e a discriminação, perguntando qual era o grau destas distorções dentro das pessoas e todas elas negavam ser racistas ou discriminadoras em seu dia a dia, mas ao estarem diante de determinadas situações, suas atitudes demonstravam o contrário do que diziam ser. "Qual o tamanho do seu racismo? Onde ele está?" Essas eram as perguntas propostas.

A pergunta agora é outra: Qual a extensão da sua tolerância para com o próximo?

Jesus ensinou, e este ensinamento foi passado também por São Francisco de Assis, que deveríamos compreender mais do que sermos compreendidos. Que a maior virtude do homem não era conhecer a si mesmo, mas sim respeitar e amar seu semelhante. Ele não fazia distinções de gênero, raça, cor, credo, etnia. Queria apenas que a humanidade aprendesse que o egoísmo e a disputa por poder levavam apenas a disseminação do ódio e do rancor.

Será que este pastor norte-americano, ou qualquer outra autoridade ou seguidor de outras doutrinas religiosas, seja a espírita, o judeu, o católico, os evangélicos, o muçulmano, os adeptos do candomblé, da umbanda, você que está lendo esta postagem, está realmente contribuindo para que a humanidade possa merecer um tão sonhado "lugarzinho no céu"? E a grande pergunta que não quer calar: "Você ajuda e ama o seu próximo realmente de coração ou espera algo em troca? Alguma retribuição nem que seja depois da morte?"

A doutrina espírita diz que o lugar de fazermos o bem é aqui. Que o lugar para contribuirmos com o crescimento espiritual dos seres humanos é neste plano.

Que tal repensarmos nossas atitudes cotidianas e verificarmos qual o grau de amabilidade que você trata o seu próximo e com que você está disposto a realmente seguir os ensinamentos de Cristo?

Este não é um texto de apologia para que todos deixem de seguir sua religião, até porque sabemos que a religião é parte importante na socialização. Esta postagem é simplesmente algo a ser pensado: Qual a nossa real capacidade de sermos humanos?

Respeito, amor e tolerância. Sem essas bases, a humanidade apesar de todo o desenvolvimento que apresenta, retornará ao barbarismo.

(Gisa Borges)

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